A Delegação Regional da Madeira da Ordem dos Economistas, lançou a nova edição do livro‘As Origens do Turismo na Madeira’, uma edição revista e atualizada.
A Quinta Magnólia acolheu no dia 3 de julho o lançamento da edição revista e atualizada do livro As Origens do Turismo na Madeira, da autoria de Rui Campos Matos. A apresentação esteve a cargo de João Welsh, que destacou a relevância da obra para o conhecimento da história económica e social da região.
Esta nova edição aprofunda o percurso do turismo na Madeira, abordando as transformações e os desafios que moldaram o sector ao longo do tempo. O evento contou com a presença do Presidente da Delegação Regional, Paulo Pereira, do Autor Rui Camps Matos, João Welsh, do Secretário do Turismo, Edurado Jesus, da Editora Rui Teles, e ainda, de membros da Ordem dos Economistas, académicos e representantes do sector turístico, evidenciando o interesse contínuo pela temática.
“Resolvemos ser especialistas em destruir património”
João Welsh critica destruição do património madeirense e alerta para perigos das modas importadas na Madeira.
Na cerimónia de lançamento da edição revista e actualizada do livro As Origens do Turismo na Madeira, da autoria do arquitecto Rui Campos Matos, João Welsh não poupou críticas à “falta de responsabilidade, há muitas décadas atrás, quando isto começou a acontecer, de não preservar a memória colectiva” e à consequente destruição do património madeirense.
“Resolvemos ser especialistas em destruir património”, afirmou Welsh, lamentando que, em vez de proteger o que nos define, “adoptámos uma lógica de rever planos para poder destruir aquilo que não devíamos destruir”. O economista sublinhou ainda o impacto negativo das influências externas, referindo que “temos quase um fascínio, não exactamente pela memória colectiva, mas um fascínio pelas Canárias e agora um fascínio ainda pior, que é pelo Dubai, e então queremos na Madeira revermos nessas modas que nada têm a ver com a nossa região”.
Para Welsh, esta tendência “não é nada positiva” e contraria a lógica de desenvolvimento sustentável e enraizado que a Madeira deve seguir. “Poderíamos perfeitamente ter conseguido desenvolver a Madeira preservando o que marca e determina a nossa identidade”, explicou.
Na apresentação da obra, o economista destacou ainda a ligação íntima entre as quintas da Madeira, a economia regional e o turismo. “As quintas não se impuseram ao território, mas sim interpretaram correctamente o território tal como é, adaptando-se perfeitamente”, afirmou, acrescentando que esta relação simbiótica foi determinante para o turismo da região.
Welsh também enfatizou a importância da “micro-escala” do turismo madeirense, que privilegia “um turismo intimista de sucesso, de contemplação, de desfruto das paisagens, de tudo o que é bonito”, sublinhando que esta estratégia é essencial para a sustentabilidade a longo prazo do sector.
Referindo-se ao autor Rui Campos Matos, realçou o seu trabalho rigoroso e apaixonado na documentação do património e da história das quintas, definindo o livro como “maravilhoso” e um “excelente registo fotográfico que traduz fielmente a realidade da Madeira”.
Para terminar, o economista fez um apelo à preservação do património: “Seria fundamental classificar todas as quintas como património e garantir que não destruímos mais. Esta obra é um lembrete do que fomos, do que somos e do que devemos preservar para que as próximas gerações possam continuar a valorizar a nossa identidade e história”, concretizou.
“Perdemos parte da nossa identidade turística”, alerta Rui Campos Matos
Autor do livro sobre as quintas históricas da Madeira critica modelo turístico actual.
A perda da identidade turística tradicional da Madeira, consequência da adopção de um modelo de desenvolvimento inspirado nas Canárias, é uma das críticas centrais feitas por Rui Campos Matos, à margem da reedição do seu livro As Origens do Turismo na Madeira. O autor lamenta que, ao privilegiar a construção massificada e o turismo mais concentrado, a ilha tenha deixado perder parte do seu património arquitectónico e cultural ligado às quintas históricas do século XIX.
Para Rui Campos Matos, a escolha deste modelo afastou a Madeira da sua essência turística original, baseada na relação entre as casas e os jardins das quintas, um legado que poderia ter sido preservado em paralelo com um crescimento turístico mais moderno e diversificado. Esta reflexão faz parte da nova edição revista e actualizada do livro, lançada depois do sucesso inesperado da primeira edição, que esgotou desde 2012/2013.
A nova edição apresenta-se num formato mais compacto, pensado para os visitantes que desejam levar consigo um guia prático sobre a arquitectura e a história do turismo na ilha. Inicialmente destinado a arquitectos, o livro acabou por cativar um público mais amplo, interessado nas imagens em preto e branco que mostram uma Madeira desaparecida, registada nos arquivos do Museu Vicente.
Apesar das transformações sofridas, o autor não vê necessidade de actualizar o conteúdo para além desta reedição, pois as principais quintas históricas já tinham sido desfiguradas ou demolidas antes da primeira publicação. Rui Campos Matos destaca a importância de preservar este património e critica a falta de valorização que sente por parte das políticas actuais, apelando a um maior equilíbrio entre turismo e conservação.
“A Madeira não evoluiu para o modelo das Canárias”, afirma secretário do Turismo
Eduardo Jesus reage às críticas de Rui Campos Matos sobre turismo e património
“A Madeira não evoluiu na direcção do turismo do Arquipélago de Canárias. São realidades completamente diferentes”, esclareceu Eduardo Jesus, secretário regional do Turismo, na sequência das críticas feitas por Rui Campos Matos à margem do lançamento da edição revista e actualizada do livro As Origens do Turismo na Madeira.
Rui Campos Matos alertou para a perda da identidade turística tradicional da ilha devido à aposta num modelo mais massificado, inspirado nas Canárias, que terá provocado o desaparecimento e a desfiguração de várias quintas históricas. Para o autor, este modelo comprometeu a singularidade do turismo madeirense e o património ligado às quintas do século XIX.
Em resposta, Eduardo Jesus defendeu que a evolução do turismo e do património na Madeira faz parte da história e da adaptação aos tempos modernos. “Muitos desses edifícios deram origem a outros, foram reorganizados conforme a actividade que passaram a ter. É incomportável manter propriedades assim nos dias de hoje”, afirmou. Sublinhou ainda que existem exemplos bem-sucedidos de quintas adaptadas à actividade turística, como a hospedagem em Quinta da Madeira, que representa uma particularidade do destino.
Questionado sobre o modelo turístico, o secretário rejeitou a ideia de que a Madeira seguiu o padrão das Canárias, afirmando que os dados científicos e os indicadores de densidade turística confirmam diferenças significativas. “Nós preferimos falar em números objectivos que não permitem grandes interpretações, e esses dados mostram realidades distintas.”
Eduardo Jesus destacou também a importância da reedição do livro como um contributo relevante para a história do turismo madeirense, um sector com mais de 200 anos que pode ser contado de diversas formas: pelas quintas, pelas personalidades que visitaram a ilha, pelas tendências internacionais e pela evolução das estratégias de promoção turística.
A nova edição do livro surge num formato mais compacto, pensado para visitantes e interessados que pretendem conhecer melhor o património e a história do turismo na Madeira.






