­

Notícias

Acompanhe e reveja todas as iniciativas desenvolvidas pela Delegação Regional da Madeira da Ordem dos Economistas.

"O país não pode estar sempre a rever projetos"

“A Ordem dos Economistas reúne um conjunto de competências ímpares na sociedade portuguesa. Reúne milhares de economistas, gestores, especialistas em finanças, auditoria, estudos económicos em geral, que podem dar um largo contributo para o desenvolvimento económico e empresarial, profissionalmente, emitindo opinião, sendo exigentes e rigorosos no exercício das suas responsabilidades, regendo-se por princípios éticos e deontológicos de que a pertença à Ordem é uma garantia e uma chancela”, segundo o novo bastonário.


Com base neste ‘ativo’, António Mendonça, entrevistado pelo JM, acredita que a Ordem reúne condições para “dar um contributo importante para que o País possa ultrapassar os constrangimentos de natureza estrutural que têm dificultado a afirmação de um processo sustentado de crescimento”.


Hoje e amanhã, na Fundação Calouste Gulbenkian, esta postura será vincada durante a conferência ‘Portugal: objetivo crescimento’, organizada pela Ordem dos Economistas com o Alto Patrocínio do Presidente da República.
António Mendonça diz que se impõe a Portugal “ultrapassar os constrangimentos de natureza estrutural que têm dificultado a afirmação de um processo sustentado de crescimento”. Tirando “períodos relativamente fugazes” em que o País procurou “acelerar o passo”, a estagnação tem sido a tendência “há duas ou três décadas”.


Aponta, como causas, “falta de clareza de projetos e de coerência estratégica macroeconómica que permita aos empresários, internos e externos e ao próprio sector público” e falta de planeamento “com confiança” de investimentos orientados “para transformações estruturais da estrutura produtiva do país, com objetivos de competitividade”.


Economia dependente


“Esperava-se que a integração europeia facilitasse a afirmação de um novo modelo económico que substituísse o antigo, baseado no protecionismo interno e externo e esgotado nas suas potencialidades, em contexto de abertura ao exterior, de concorrência e de sofisticação tecnológica. Para isso teria sido necessário uma intervenção macroeconómica orientada para a implantação deste novo modelo, o que nunca veio a acontecer. A economia portuguesa respondeu ao facilitismo, desestruturou-se ainda mais, perdeu competências e especializou-se em sectores fortemente dependentes da conjuntura externa, como é o caso do turismo”, considera. Num momento em que o País tem milhões de euros, no âmbito do PRR – Plano de Recuperação e Resiliência, o economista e professor universitário defende um “pacto para o crescimento” entre os agentes económicos, políticos e o governo, a pensar numa “estratégia a médio longo prazo”.
“O País não pode estar permanentemente a rever projetos, a pôr em causa decisões tomadas, a desperdiçar recursos financeiros e humanos que, em muitos casos, representam atrasos irrecuperáveis. A Ordem irá mobilizar os economistas para o papel que lhes cabe. Queremos atuar como um fator sistémico de coerência e sustentabilidade estratégica na economia e na sociedade portuguesa”, defende.


Perspetiva-se crise incalculável


Quando o JM falou com o bastonário, ainda não tinha estalado a guerra entre a Rússia e a Ucrânia. A notícia do momento era a do anúncio de um possível agravamento das taxas de juro, por parte do FED. Relativizou o primeiro e considerou de “enorme preocupação” o conflito então iminente.


“Podemos estar na iminência de um conflito em larga escala na Europa. Todo o quadro geopolítico pode vir a ser alterado, sobretudo se a atual situação puder incentivar a China em relação a Taiwan”, disse acerca da guerra em curso.
António Mendonça (na linha de uma recente manchete do JM) avisa que “podemos estar em vésperas de uma nova crise económica de incalculáveis dimensões, sem que os efeitos das anteriores, desde a crise de 2008-2009 até à covid-19, tenham sido ultrapassados”, para a qual “as políticas convencionais não fazem qualquer sentido”.


“Estamos a viver uma situação única que requer muito bom senso. Político e económico. Os responsáveis políticos e económicos têm de estar à altura. Não podem, simplesmente, recorrer a cartilhas do passado. Têm de ser criativos e pensar nas populações”, defende o economista.


Convidado para ministro em 2009 quando estava na Madeira


António Mendonça foi ministro de José Sócrates e foi na Madeira, durante um congresso dos economistas, que recebeu o convite, por telefone, para integrar a nova equipa governativa. Porque tinha o telemóvel descarregado, a chamada foi feita através do então bastonário, Murteira Nabo.


“Recordo-me que nesse congresso, o dr. Alberto João Jardim fez uma intervenção bastante keynesiana, justificando os investimentos na Madeira e como tinham sido realizados na altura certa. Foi uma interessante intervenção e ajustada a um congresso dos economistas. À noite houve uma receção no Palácio do Governo e a notícia já era pública. O presidente do Governo Regional foi de uma simpatia extrema para comigo, desejando-me felicidades e que não prejudicasse a Madeira com as minhas ações. Teve muita graça e acutilância na forma como o fez”, recorda assim o momento ao JM.


Sobre o desafio que lhe foi proposto, diz que se sentiu honrado com a oportunidade de servir o País “a um outro nível de responsabilidade”. Foi também, segundo o agora bastonário, uma oportunidade de utilizar a sua formação e ideias como economista, “numa situação de plena crise económica internacional que acabaria por ter profundas consequências, em Portugal, na Europa e no mundo em geral”. António Mendonça foi ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, de outubro de 2009 a junho de 2011.


Considera ter sido “uma experiência inesquecível, sob todos os aspetos”, que não a aceitou “por razões de natureza política ou partidária”, mas apenas pela oportunidade de ser útil ao país. “Aliás não tinha qualquer relação pessoal com o primeiro-ministro”, sublinha.

Ver artigo JM110322

 

­