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Economicamente falando o frágil mercado da madeira está apenas expectante


A Comissão Europeia confirmou ontem que o novo Coronavírus (Covid-19) já afecta a economia dos 27 Estados-membro, muito por culpa do peso que a China tem nos mercados, por ser o país mais afectado por este surto há quase dois meses, o impacto em economias mais dependentes do exterior vai afectar a Madeira, caso não se interrompa a propagação.


“Os acontecimentos recentes apontam para uma materialização parcial desse risco, por isso teremos um impacto, tendo em conta que a China representa 18% do PIB [produto interno bruto] mundial, mas ainda não é possível fazer uma previsão séria”, disse o comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni, em Bruxelas. O Fundo Monetário Internacional (FMI) já tinha frisado há poucos dias, que o Covid-19 irá afectar, seguramente, o crescimento económico de todo o mundo.
Perante este cenário, questionamos o presidente da Delegação da Madeira da Ordem dos Economistas. “Ficando o meu comentário estritamente limitado à questão económica, o que o Coronavírus pode vir a ser em termos mundiais é o bode expiatório que rebentará com uma realidade artificial a que muitos analistas e investidores qualificam de ‘everything bubble’ (a bolha de todos os activos), causada por uma década de políticas monetárias expansionistas levada a cabo por todos os Bancos Centrais do planeta e que colocaram preços de acções, obrigações, imobiliário, arte, antiguidades, etc. em valores absurdamente altos, fruto de um modelo assente em altos preços de activos/dívida neles suportados/confiança que o modelo perdure, consequência da continuada impressão de dinheiro impresso verdadeiramente a partir do nada”, analisa Paulo Pereira.


Por isso, entende que “no inevitável modelo de globalização com que coordenamos a actividade económica e humana mundial, os países especializaram-se ou tentam continuadamente especializar-se naquilo eu lhes trás competitividade acrescida e não há nenhuma nação com capacidade (nem dentro de um prazo razoável) para manter um aceitável padrão de vida com as suas fronteiras fechadas, pelo que o paradigma estrutural não vai ser alterado. Ou seja, as coisas vão continuar a ser assim, com pessoas, bens e commodities a circularem pelo planeta todo”, acredita.


O economista aborda a questão do ponto de vista regional. “No que à RAM diz respeito, poderemos vir a ter de enfrentar um cenário de quebra significativa (apesar de conjuntural) da procura turística do destino porque a paranóia (justificada ou não) poderá vir a ditar que as pessoas prefiram ficar sem se deslocar para fora das suas cidades por algum tempo adicional”, calcula. “Aí, além do impacto directo no sector da hotelaria, ALs, restauração, animação turística, etc. (o tal que se estima ser cerca de 25% do PIB da RAM), há toda a interligação deste sector com os restantes e isso significaria um arrefecimento bruto, ainda que temporário, na economia regional, onde muita classe empresarial ainda está a ‘lamber feridas’ da última crise e onde a dívida bancária tem um peso importante na estrutura de capital das empresas, deixando-as mais vulneráveis aos maus momentos”, aponta ainda.


Antecipar o ‘evento cisne negro’
Paulo Pereira, inclusive, recorda o ensaísta e estatístico Nassim Taleb, que na teoria do ‘“evento cisne negro” (tão raro e imprevisível que nem contamos com ele, mas que inevitavelmente um dia ocorre e traz com ele consequências inesperadas). O que o mesmo autor nos recomenda é que meçamos a nossa fragilidade (esta sim é possível) em determinada situação, caso ocorra um evento cujo risco de ocorrência não dominamos de maneira alguma”, aconselha. “Ou seja, e por exemplo, o que todos os empresários podem fazer já e preventivamente, é, paralelamente a continuarem a trabalhar normalmente, medir a fragilidade do seu negócio a cenários negativos de vendas que possam ocorrer causados por uma retracção da procura daquilo que vendem como consequência do impacto (real ou psicológica) do Coronavírus”.
“Quer isto dizer que devem simular cenários de quebra de vendas de X, Y e Z% durante alguns meses e perceber que impactos isso terá na sua tesouraria (que é o garante da capacidade de poder pagar ao pessoal, ao Estado e aos fornecedores correntes). Com esse exercício prévio, conseguirão decidir hoje que quando (e se) se vier a verificar algum desses cenários, eles podem contratar mais dívida e/ou se têm disponibilidade (real e de vontade) para colocar mais dinheiro da sua esfera pessoal no negócio para o ‘segurar’ mais algum tempo, até a situação normalizar. Se todos o fizerem, teremos um tecido empresarial mais bem preparado (dentro do que lhes é possível) e com maior probabilidade de sobrevivência a esses cenários. E com eles a economia regional”, conclui.


Turismo sem ocorrências e Hotelaria reconhece efeitos


Questionada sobre o impacto económico deste novo Coronavírus, nomeadamente no Turismo, basicamente se a Secretaria regional do Turismo e Cultura já tem indicadores preliminares sobre reservas na hotelaria a serem canceladas e também nos voos de e para a Europa, nomeadamente dos países afectados (Itália, França, Alemanha, Suíça, etc...), a resposta foi curta e através da Direcção Regional de Turismo. “Não há conhecimento algum de cancelamentos de reservas de hotéis nem de operações aéreas por causa do Coronavírus”.
No entanto, o presidente da Mesa da Hotelaria da ACIF, João Paulo Araújo, reconhece que já se sente algum impacto nas reservas, embora só possa falar do grupo Pestana, que é ainda assim um barómetro importante dado ser o maior grupo hoteleiro do país.


“É muito difícil para nós, neste momento, antecipar o que poderá vir aí relativamente ao Coronavírus”, disse, em declarações à TSF-Madeira e ao DIÁRIO. “Sabemos que mais tarde ou mais cedo vai chegar a Portugal e é uma realidade com a qual vamos ter de lidar como no passado lidamos com outras pandemias, desapareceram e as coisas continuaram. O impacto começa naturalmente no sector do turismo porque as pessoas vão-se retrair, aliás já se começaram a retrair de viajar e de frequentar locais públicos de grande reunião de pessoas oriundos dos mais diversos países. É natural que o impacto inicial ocorra junto das companhias aéreas e na área do turismo, nomeadamente na hotelaria. Agora, qual vai ser o tamanho desse impacto, é muito difícil de antecipar”, aponta.


Sobre uma quebra nas reservas, o administrador hoteleiro diz que “claramente percebemos uma tendência de diminuição de procura, que não é específica à Região Autónoma da Madeira, pois ocorre nas restantes áreas onde o grupo se faz representar em Portugal. Não é uma quebra dramática ou catastrófica, mas estamos atentos à curva que a procura está a ter”. O grupo Pestana teve uma quebra de 8% nas reservas para esta época de Carnaval, podendo estar relacionado com o medo que o Coronavírus impõe.

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