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Levantamentos, pagamentos e compras perderam em 2020 quase 190 milhões de euros

Entre tantos indicadores negativos de 2020, ano marcadamente disruptivo na vida de todos, o movimento com os cartões da rede Multibanco na Madeira é um dos mais reveladores do impacto da pandemia de covid-19. Tanto em número como em valor as perdas são significativas e recuam, nalguns casos a 15 anos ou até mais. Comparativamente a 2019, os levantamentos diminuíram 77,1 milhões de euros (sobretudo com cartões internacionais. -37,2%), as compras menos 104 milhões de euros (com impacto no comércio e na restauração) e os pagamentos caíram 7,6 milhões de euros. No conjunto, foram mais de 188,7 milhões de euros, depois de em 2019 se ter chegado aos mais de 1,9 mil milhões nestas três operações mais comuns. O DIÁRIO pediu ao presidente da Direcção Regional da Madeira da Ordem dos Economistas para analisar estes dados. “Vamos ignorar o efeito do primeiro trimestre, pois deve ter ido em linha com 2019”, começa por frisar. “Com os confinamentos e restrições impostos pelos governantes sob a justificação COVID-19 e dando a informação como boa”, refere, os “pagamentos em caixas multibanco (ATM) e consultas foram as piores dos últimos 15 anos”. Segundo Paulo Pereira, “o efeito confinamento, o teletrabalho, o arrefecimento brutal da vinda de turistas para Portugal levou a muito menos pessoas estarem nas ruas e a utilizarem serviços nestas disponibilizados, como são as ATM”, faz notar. “Pessoas a trabalhar em casa usam mais o netbanco/MB Way para fazer pagamentos que as ATM e mesmo os mais idosos/menos confortáveis no netbanco/MB Way, ficando em casa, pedem aos mais novos que façam isso por eles”, reflecte. Por isso, acredita, “seria interessante perceber junto das entidades como Eléctricas, Câmaras (água), fornecedoras de gás, empresas de telecomunicações se cresceram as adesões aos débitos em conta”, mas acrescenta que “não será de descurar muitos atrasos/incumprimentos de pagamentos de água, luz, telecomunicações e outras contas já por dificuldades económicas, que antes eram feitos por ATM”. Além disso, a “redução significativa da rede de ATM dos bancos nas ruas de Portugal (tendência mesmo antes do Covid). Os Bancos estão a reduzir muito o número de ATM’s (têm muitos custos para os Bancos, que cumprem muitas normas de segurança), pelo que limita a opção do seu uso mesmo para quem anda na rua à procura delas”, garante.
Para Paulo Pereira, a desactivação de imensas ATMs de redes não bancárias (aquelas azuis e laranjas que encheram as zonas turísticas do Funchal, por exemplo) que obtinham a sua rentabilidade no ‘cash advance’ feito pelas cartões dos turistas e que sem eles, preferiram desactivar muitas das suas máquinas”, são outras das razões para estes números. Quanto aos movimentos, “o levantamento de dinheiro pode ter a haver com uma corrida ao ‘cash’ para o caso de eventualidade”, acredita. “Quem tinha dinheiro (muito ou pouco), terá optado por ter mais ‘dinheiro vivo’ em casa para eventualidades, em especial no início da pandemia, quando nos venderam que vinha aí o fim do mundo”. E ironiza: “Além de papel higiénico, terá havido também corrida pela moeda. O MB Way para levantamento de dinheiro em especial por adolescentes, usado pelos pais está a crescer brutalmente e com certeza terá ajudado”. Já os “pagamentos em terminais multibanco advém curiosamente de apesar do ‘cash’ ter sido levantado, preferir-se usar terminais nas lojas (contactless ou não), quer para manter o ‘cash’ levantado intocável, quer pelos fortes incentivos e campanhas a favor do uso dos cartões por motivos sanitários”, conclui.

E como será 2021 e o futuro?

Para o economista Paulo Pereira, “2021 deve manter esta tendência” de um ano pandémico, tanto é que os efeitos do vírus continuam aí, com restrições à circulação e às actividades. E isso exigiu e continuará a exigir mudanças. “O mundo está a ficar mais digital e em breve (5/6 anos) teremos euros e dólares electrónicos e alguns anos depois o fim das notas e moedas físicas, aumentando inevitavelmente o nível de controlo sobre os cidadãos e perdas de liberdades e privacidades individuais”, prevê. Mais, “sempre em nome do ‘bem’, contra ‘branqueamentos de capitais e financiamento ao terrorismo, corrupção e tráfico de drogas’ e cheios de boas intenções, mas depois com resultados terríveis sobre a mais pequena das minorias: o indivíduo. Mas é o que é”, conclui.

Ver artigo DN290121

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