Presidente da Delegação da Ordem dos Economistas sugere medidas
Os Censos 2021 “não surpreendem na generalidade dos seus resultados”, começa por afirmar o presidente da Delegação Regional da Madeira da Ordem dos Economistas, Paulo Pereira, dado que “o assunto da redução da população e do longo inverno demográfico que a RAM se arrisca a viver, de forma profunda, nas próximas décadas, tem vindo a ser regularmente debatido nos últimos anos em variados fóruns”.
Posto isto, enumera alguns factores que justificarão a redução e o envelhecimento da população madeirense, como confirmou o Censo 2021, divulgado ontem.
“Falta de dimensão real da nossa Economia, que impede as empresas de escalarem e com isso criar postos de trabalho, mais e melhor remunerados, de forma continuada e dinâmica” mas, também, a “falta histórica de capital local para investimentos diversificados em produção de bens transacionáveis para além do turismo”.
Mais, frisa o economista, há que referir a “incapacidade de atracção desse capital com origem no exterior e que, quando é conseguido, é quase na sua totalidade aplicado em sectores de bens não transaccionáveis (como a promoção imobiliária)” e, ainda, a “ressaca do forte movimento migratório de pessoas com mais formação provocado pelas consequências da grande crise financeira de 2008 e que culminou no PAEF e numa forte contracção da economia regional e do nível de vida da classe média, provocando uma verdadeira ‘fuga de talentos’ a que se junta a incapaquestionarcidade de atrair mais capital humano de qualidade (falta de oportunidades reais, elevadíssima carga fiscal, ultraperiferia geográfica) e de reter as gerações mais novas e bem preparadas academicamente”.
E daqui em diante?
Chegados a este ponto, importa questionar o que é preciso fazer para inverter este ciclo de quebra da natalidade, por exemplo, uma vez que a população residente até tem vindo a crescer como recentes indicadores apontam, impulsionada pela vaga de novos emigrantes chegados sobretudo da Venezuela.
“Estas situações agravam o ciclo de estagnação económica que se tem traduzido em forte desincentivo (ou mesmo impossibilidade real) das famílias em terem mais filhos”, começa por reforçar Paulo Pereira. “As dificuldades que já se começam a sentir advinda dos constrangimentos políticos ao funcionamento da economia ao abrigo do covid-19 só virão a agravar esta situação”, adverte.
A verdade é que os problemas não se ficam por aqui. “A isto devemos ainda juntar as mudanças culturais, várias delas consequências indesejadas de boas intenções do Estado, que vão empurrando as pessoas para menos compromisso com a família, sua dimensão e durabilidade”, afiança.
O economista lembra a nova aposta: “Mesmo que muitos dos compradores estrangeiros de moradias e apartamentos, que estão a ser construídos e transaccionados na RAM, venham para cá viver (o que não é de todo garantido, pois muitos são para ‘investimento’ ou para segunda/terceira moradia e não um compromisso com a Região), tal não deverá ser suficiente para colmatar as perdas que se terão por mais emigração e menos nascimentos.”
Por isso, Paulo Pereira é claro, ao afirmar: “Não sei se vamos ainda tempo de inverter completamente este processo para que tenhamos impactos imediatos positivos para a sociedade, mas como diz um velho provérbio chinês, existem dois momentos óptimos para se plantar uma árvore, há 20 anos atrás e o quanto antes.” Portanto, “deve-se avançar para medidas agressivas, como uma menor carga fiscal e burocrática sobre a economia, para estimular o seu desenvolvimento e dinâmica e, com isso, apoiar verdadeiramente as famílias a decidirem por mais filhos em melhores condições. Relembro que 50% do preço de uma casa nova são impostos. O Estado está a estimular o quê com isto, senão o seu tamanho?”, questiona.