A proposta de aumento salarial de 20% surpreendeu Jorge Veiga França e Paulo Pereira, que consideram irrealista acrescentar encargos às empresas numa altura de inflação crescente.
O presidente da ACIF, Jorge Veiga França, assim como o seu homólogo da Ordem dos Economistas na Madeira, Paulo Pereira, admitem terem ficado surpreendidos, e até revoltados, com as recentes declarações do primeiro-ministro, António Costa, que apelava a um esforço coletivo por parte do tecido empresarial no sentido de garantir um aumento salarial na ordem dos 20%.
Em declarações à rádio 88.8 JM FM, Jorge Veiga França, presidente da ACIF (Associação Comercial e Industrial do Funchal), afirma que “na semana passada a inflação passou para 8%” na Europa como consequência da guerra na Ucrânia. E, sublinhando que o cenário de guerra “não parece menorizar-se, antes pelo contrário”, antevê um “aumento inflacionário crescente, em que muitos países nesta altura não conseguiram resolver o problema da escassez de matérias-primas”, sendo Portugal “um deles”. Dá o exemplo das oficinas de automóveis, “onde há falta de peças e não só”, para descrever os condicionalismos atuais à economia.
Por isso, o responsável pela ACIF salienta que ficou perplexo com as declarações de António Costa e desafia-o a explicar como é que as empresas vão implementar esse aumento salarial num momento tão difícil da economia.
“O senhor primeiro-ministro vem atirar para o ar com uma proposta” de aumento salarial, portanto, “é melhor que explique aos portugueses e aos empresários de que maneira pretende ajudar as empresas na medida em que através do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) a consideração não foi além de uma percentagem irrisória da totalidade dos fundos, em que o resto é para o setor público”. E prossegue: “Era bom que explicasse como estas coisas se fazem, apenas fiquei atónito, a não ser que tenha um plano que ainda não lançou e que vai apresentar às empresas oportunamente”, referiu.
Costa, relembre-se, tinha considerado o aumento de 20% dos salários uma questão de “maior justiça” social. Mas nem o representante da ACIF, nem tão-pouco o presidente da direção regional da Ordem dos Economistas, encontram formas de garantir tal propósito sem empurrar as empresas para um cenário de crise que poderá eliminar empregos e agravar a atual situação.
Paulo Pereira realçou em declarações à rádio 88.8 JM FM que “um trabalhador custa, em média, o dobro daquilo que recebe, devido à carga fiscal, portanto, o que parece claramente é que o senhor primeiro-ministro, prevendo os tempos difíceis que aí vêm e com a perda de compra que está a acontecer devido à inflação criada pelo BCE (Banco Central Europeu) com ajuda dos políticos europeus, quer arranjar um bode expiatório junto das empresas privadas”.
O líder da Ordem dos Economistas na Região entende que o aumento salarial é irrealista. “As empresas não aguentam um aumento salarial, porque, se aumentam os salários, vão ter de aumentar, da mesma forma, o valor dos bens e serviços que comercializam, ampliando o processo inflacionário e no fundo ninguém fica melhor, pelo contrário, ficam pior, uma vez que se as empresas aumentarem os preços teríamos uma vaga de desemprego enorme”.
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