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O debate do Estado da Região que decorre hoje deverá abordar várias temáticas. O DIÁRIO procurou antecipar alguns dos temas. Do Ambiente ao Emprego, do Turismo à Economia no global. Não faltam temas, sobretudo num momento que a Madeira está em recuperação económica, mas as preocupações são muitas perante uma Região que mesmo que quisesse, não está imune ao que se passa lá fora.
Pedimos ao presidente da Ordem dos Economistas da Madeira, Paulo Pereira, para fazer uma contextualização sobre os principais desafios ao actual contexto, mas também questionamos um ambientalista, Helder Spínola sobre as preocupações nesse crucial capítulo do futuro da Região, mas também um sindicalista, Adolfo Freitas, sobre o estado do mais importante sector da economia regional do ponto de vista dos trabalhadores.
Centremos na análise do economista. “A economia está a ter claros sinais de retoma, com os dois principais motores da economia em forte actividade (turismo e construção), estando o desemprego em quebra para números recorde”, realça Paulo Pereira. “A Madeira, devido à sua dimensão reduzida e particularidades geográficas (e com certeza por méritos próprios dos empreendedores madeirenses), poderá ser menos afectada pelas nuvens negras que se formam num horizonte próximo a nível internacional”, acredita.
Assim, aponta algumas preocupações do ponto de vista externo, que podem ser debatidos hoje. “O risco elevado de recessão na Europa, que se traduz em empresas em dificuldades, mais desemprego ou pressão para contenção de salários”, analisa, sendo que este risco é “acentuado por grandes e novos aumentos nos custos energéticos na Europa já a partir de Outubro”, calcula.
Além disso, a “tendência de inflação elevada pelo menos para os próximos 18 meses (mesmo que se inicie um processo de desaceleração), os preços não andarão para trás. O poder de compra perdeu-se”, lamenta. Acresce que os “eventuais aumentos de taxas de juro pelo BCE, mesmo para níveis sempre muito abaixo dos necessários para parar a inflação de preços que se está a sentir”, contribuirão para criar grandes problemas. Há que não esquecer a “continuada desvalorização do Euro, que encarece todas as matérias-primas que a Europa importa e que
são cotadas em dólares”, com efeitos em todo o espectro económico regional e “que retirarão imenso poder de compra às famílias europeias e apetência para o consumo de bens e serviços não essenciais, onde as férias podem ser sacrificadas”, frisa.
Já os problemas de base interna, o presidente da direcção regional da Madeira da OE aponta a “situação de fragilidade económico-social de uma parcela importante da nossa sociedade”, dando como exemplo o facto de o “Banco Alimentar apoiar 10 mil madeirenses e os indicadores apontarem para 70 mil em risco de pobreza iminente”. Estes temas não podem ser ignorados no debate.
Já o “aumento, tal como nos restantes estados europeus, mas agravados pela ultraperiferia e fragilidade económica nacional, constante do custo de vida (perda de poder de compra) está a retirar condições de vida também à classe média, o que levará a pressões sociais e eleitorais sérias sobre as entidades públicas para mexerem nos salários em alta, que a serem atendidas, pressionarão significativamente as contas públicas”, fundamenta.
Para Paulo Pereira, “o nível de endividamento o Governo da RAM” que “está praticamente aos níveis pré-PAEF (Programa de Ajustamento Económico-financeiro), mas num cenário de manutenção de várias medidas fiscais severas ‘extraordinárias’ herdadas da solução na altura encontrada, tais como o IVA a 22%, taxas de IRS mais elevadas em muitos escalões, etc.”, levam-no a acreditar que “pelo que se houver necessidade de alguma medida orçamental extraordinária, será em cima de uma carga fiscal que continua alta”, teme.
Ainda que os “efeitos da entrada na economia local, em simultâneo, de significativos fundos agendados para o PRR e do Portugal 2030, numa pequena economia que está já a sentir efeitos de sobreaquecimento (preços mais altos, falta de materiais e mão de obra)”, não auguram nada de bom no horizonte.
E conclui: “Parece-nos que há que estar atentos a estas questões e passar uma mensagem de necessidade de todos nós exigirmos menos do que pode ser a presença do governo nas nossas vidas, permitindo aos responsáveis políticos alguma margem para iniciarem a redução da dimensão do Estado na nossa economia, pois só assim se conseguirá reunir condições reais de verdadeira e profunda baixa de impostos sobre a mesma, única maneira a nível local de compensar a degradação do poder de compra dos cidadãos sem afectar a competitividade da nossa economia como um todo (para turistas, recursos-humanos, investidores, etc). De resto, a fórmula mais comprovada da história da humanidade para garantir melhoria sustentada do nível de vida das pessoas é promover concorrência, mais liberdade de acção e motivação aos empreendedores, simplificando a máquina burocrática.”

Ver artigos DN04 e DN05

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