Estudo aponta para número baixo de sobrevivência das empresas familiares à passagem da primeira para a segunda geração. Planeamento é “a chave” para mitigar os riscos da sucessão.
As empresas familiares estiveram ontem no centro de uma conferência promovida pela PwC, uma das maiores multinacionais de consultoria e auditoria do mundo, pela sociedade de advogados CCR Legal e pela delegação regional da Ordem dos Economistas. Dedicado a este tipo de empresas, aos seus desafios, boas práticas e continuidade, o evento teve lugar no auditório do Centro de Estudos e História do Atlântico, no Funchal, contando com a participação de quatro oradores.
Na conferência, foram partilhados os principais resultados e conclusões dos estudos realizados pela PwC no âmbito das empresas familiares, mas também os desafios que estas enfrentam no seu dia a dia e os impactos da transição geracional nos seus negócios, e houve ainda tempo dedicado a responder a algumas questões da plateia.
Na sessão de abertura, o presidente da delegação regional da Ordem dos Economistas começou por apontar a “importância brutal” das empresas familiares para a economia, mas também de conseguir assegurar uma gestão cuidada das mesmas.
“Muitas vezes, quando as pessoas têm de pagar uma parte significativa do dinheiro que gerem, então preferem que seja a um filho, uma filha, um neto, uma nora...”, explicou Paulo Pereira, alertando que muitas empresas “começam a entrar sem querer numa fase de nepotismo, em que os méritos não são tidos em conta para a entrada das pessoas”. Uma situação que pode criar vários problemas e conflitos, já que, entre outros aspetos, os restantes trabalhadores “sabem que têm a progressão tapada”. “Se isto não for enfrentado, pomos em causa o futuro destas empresas”.
Já Cristina Cabral Ribeiro, managing partner da CCR Legal, apresentou as principais conclusões dos estudos realizados pela PwC sobre as empresas familiares e os seus desafios de transição geracional.
A oradora apontou a quebra nas gestões familiares como um “número assustador” e o que mais motivou a realização a conferência. “O estudo da PwC revela que, na passagem da primeira para a segunda geração, apenas 30% das empresas sobrevivem. Da segunda para a terceira geração a percentagem é de 12% e da terceira para a quarta é de apenas 3%. São números impressionantes”, disse, notando, porém, que estas empresas estão “cada vez mais resilientes perante momentos de incerteza”.
O estudo aponta ainda que “apenas 15% das empresas familiares em Portugal têm a sua sucessão assegurada”, e Cristina Cabral Ribeiro considerou que “outro dado preocupante é que 46% das novas gerações estão fora da empresa”. “Ou seja, cerca de metade das empresas familiares tem as próximas gerações afastadas da gestão”.
Sobre o caminho a seguir, indicou que é urgente que estas empresas familiares continuem a “evoluir no sentido da digitalização”.
Preparar a sucessão
A segunda metade do evento foi dedicada em larga parte aos temas das sucessões e protocolos familiares.
Cristina Cabral Ribeiro, managing partner da sociedade de advogados CCR Legal, apresentou os princípios e regras fundamentais do regime sucessório português.
Já Luís Pedro Oliveira, partner da CCR Legal, falou sobre como mitigar o risco da sucessão, numa intervenção sobre o "protocolo familiar – o que é e como alcançar o acordo da família". Neste aspeto, o orador frisou que "a chave é o planeamento".
Por fim, a intervenção de Ana Luísa Costa, tax partner da PwC, incidiu sobre as reorganizações empresariais e fiscalidade.
“Principais grupos económicos em Portugal apresentam natureza de raiz familiar”
Cristina Cabral Ribeiro, da CCR Legal, abordou as principais conclusões dos estudos realizados pela PwC sobre as empresas familiares e os seus desafios de transição geracional, tendo começado por explicar o conceito e exemplificar com algumas firmas bem conhecidas.
“De entre os principais grupos económicos em Portugal, a sua maioria apresenta uma natureza de raiz familiar", começou por dizer a oradora, apresentando uma análise às 25 maiores empresas a atuar em Portugal, algumas delas multinacionais de origem estrangeira. “Sabemos que a maior parte das empresas tem uma base familiar e são bastante relevantes, por isso, ser uma empresa familiar não é algo mau".
Na sua apresentação, Cristina Cabral Ribeiro falou ainda sobre as novas gerações e como estas assumem o poder nas empresas, o que define as empresas familiares e a situação destas em Portugal.
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